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Direito Processual Penal – 27-01-2010 – Renato Brasileiro – Intensivo I

Aula 1 – 27.01.10
Processo Penal
Prof.: Rogério Brasileiro

INQUÉRITO POLICIAL

1. Conceito de inquérito policial

Inquérito policial é um procedimento administrativo inquisitório e


preparatório, consistente em um conjunto de diligências realizadas pela polícia
investigativa, para apuração da infração penal e de sua autoria, a fim de
fornecer elementos de informação para que o titular da ação penal possa
ingressar em juízo.

Atente-se que inquérito policial é diferente de termo circunstanciado.

Para as infrações de menor potencial ofensivo foi instituído o termo


circunstanciado, previsto no artigo 69 da Lei 9099/95.

As infrações de menor potencial ofensivo são todas as contravenções


penais e crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 anos, cumulada ou
não com multa, submetidos ou não os delitos a procedimento especial.

2. Natureza jurídica do inquérito policial

A natureza jurídica do inquérito policial é de procedimento


administrativo e não ato de jurisdição. Logo, eventuais vícios constantes do
inquérito policial não afetam a ação penal a que deu origem, tendo em vista
não se tratar de ação judicial (ex: o delegado prende em flagrante, mas não
comunica ao juiz). As nulidades somente são cabíveis em fase processual.

3. Finalidade do inquérito policial

A finalidade do inquérito policial é colher elementos de informação, para


que o titular da ação possa ingressar em juízo.

Elementos de informação diferem de prova.

Elementos de informação Provas


- Colhidos na fase investigatória. - Em regra, colhidas na fase judicial.
- Não há participação dialética das partes (nem - Colhidas na presença do juiz (Princípio da
contraditório e nem ampla defesa). Identidade Física do Juiz, art. 399, § 2º, CPP).
- O juiz atua apenas como garante das regras do - Deve ser produzida com a participação dialética
jogo. das partes (observância obrigatória do contraditório
e da ampla defesa).
- Servem para fundamentar medidas cautelares e
para a formação da convicção do titular da ação penal
(opinio delicti).

Elementos de informação isoladamente considerados não são aptos a


fundamentar uma condenação. No entanto, não devem ser completamente
desprezados, podendo se somar à prova produzida em juízo para formar a
convicção do juiz.

4. Presidência do inquérito policial

A presidência fica a cargo da autoridade policial no exercício de funções


de polícia investigativa.
Qual a diferença entre polícia judiciária e polícia investigativa? Essa
diferença é seguida em alguns julgados do STJ, mas não pelo STF. (STJ Resp
332.172, 08/08).

Policia judiciária é a polícia que funciona como auxiliar do Poder


Judiciário no cumprimento de suas ordens (ex.: mandado de prisão).

Polícia investigativa é aquela que atua na apuração de infrações penais e


sua autoria.

A mesma polícia que ora cumpre ordens do juiz e ora investiga delitos.

Art. 144, p. 1º. A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim
como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

Crimes de competência da São investigados


- Justiça Militar da União - pelas Forças Armadas (Inquérito Policial Militar)

- Justiça Militar Estadual - PM ou Corpo de Bombeiros (IPM)


- Justiça Federal - Polícia Federal
- Justiça Eleitoral - Polícia Federal
- Justiça Estadual - Polícia Civil / Polícia Federal

Sendo a competência da Justiça Estadual, em regra, a competência é da


Polícia Civil. Porém, a Polícia Federal também pode investigar alguns crimes de
competência da Justiça Estadual. Nas infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei, poderá a Polícia Federal investigar crimes de competência da Justiça
Estadual. Estes crimes estão previstos no art. 1º da Lei 10.446/02.

5. Características do inquérito policial

5.1. Peça Escrita:

Em regra, (art. 9º, CPP).


Contudo, o art. 405, § 1º, CPP (fase judicial) prevê a possibilidade de
utilização de meios da gravação magnética, inclusive audiovisual. Assim , há
quem sustente a possibilidade de meios de gravação também no inquérito
policial.

5.2. Peça Dispensável:

Se o titular da ação penal contar com peças de informação que tragam


elementos sobre a autoria e a materialidade,poderá dispensar o inquérito
policial. Exs.: CPI, inquérito feito pelo MP.

O órgão do MP dispensará o inquérito, se com a representação forem


oferecidos elementos necessários para oferecer a denúncia (ex: nos crimes
tributários em que a Fazenda Pública envia toda a documentação).

5.3. Sigiloso:

A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário (art. 20 do


CPP). Ao juiz, promotor de justiça e advogado, não se aplica o sigilo no
inquérito policial.
O STJ entende que, em alguns casos, se aplica o sigilo ao advogado. Já
o STF vem decidindo reiteradamente que o advogado tem acesso a tudo que
for juntado aos autos. Porém, em caso de interceptação telefônica, a prova
ficará separada dos autos de inquérito, não tendo o advogado acesso (STF -
HC 83.354 e HC 90.232).

Informativo 529 do STF. Constitui direito do investigado o acesso aos autos de inquérito
policial ou de ação penal, ainda que tramitem sob “segredo de justiça” ou sob a rubrica de
“sigilosos”.

Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso


amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado
por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa.

A CF assegura ao preso a assistência de advogado (art. 5º, LXIII), logo,


como desdobramento dessa assistência, assegura o acesso ao inquérito
policial.

O advogado tem acesso às informações já introduzidas nos autos do


inquérito e não em relação às diligências em andamento (art. 7º, inc. XIV, Lei
8.906/94) (STF HC 82.354 e HC 90.232).

Em caso de negativa de acesso ao advogado ao inquérito policial:


- O advogado pode impetrar mandado de segurança, visto que ferido
direito líquido e certo de acesso aos autos.
- em nome do investigado é cabível a impetração de habeas corpus,
estando ele preso ou em liberdade. Para o STF, sempre que puder resultar,
ainda que potencial, constrangimento a liberdade de locomoção será cabível o
uso do HC. O STF entende que a negativa do acesso aos autos para o
advogado prejudica a defesa, e, conseqüentemente, atinge a liberdade de
locomoção do acusado.

O HC cabe contra a quebra de sigilo bancário e pode ser usada tanto no


inquérito policial como na ação penal, pois, em virtude da quebra de sigilo,
poderá haver a prisão.

Segundo o referido art. 7º, inc. XIV, o advogado sem procuração poderá
ter vistas ao processo. Se nos autos do inquérito houver quebra do sigilo de
dados, quanto a tais informações só terá acesso o advogado com procuração
nos autos (STF - HC 82.354).

5.4. Peça Inquisitorial:

Não há contraditório e nem ampla defesa durante o inquérito.

A Súmula Vinculante 14 mitigou ou relativizou a característica da


inquisitoriedade, ou seja, havendo coação ilegal ou violência no curso do
inquérito policial deve se assegurar o contraditório e a ampla defesa. (STJ, HC
69.405).

5.5. Peça Indisponível:

O inquérito policial é indisponível, não podendo o delegado de polícia


arquivá-lo de ofício (art. 17 do CPP).

5.6. Peça Temporária:

A doutrina vem entendendo que o art. 5°, inc. LXXVIII, da CF


(celeridade processual), não se aplica apenas aos processos, mas também ao
inquérito policial.
O prazo para conclusão do inquérito somente possui relevância quando o
indiciado se encontra preso (10 dias), pois a demora da conclusão, de forma
abusiva, acarretará o relaxamento da prisão.

A maioria da doutrina entende que o prazo para conclusão do inquérito


quando o indiciado está solto (30 dias) pode ser prorrogado.

O STJ determinou o trancamento de um inquérito policial que se


arrastava a mais de sete anos sem solução, por força da garantia da razoável
duração do processo (decisão pioneira).

6. Formas de instauração de inquérito policial

6.1. Ação Penal Privada / Ação Penal Pública Condicionada:

Dependem de manifestação. O inquérito policial depende de


requerimento do ofendido ou de seu representante legal.

6.2. Ação Penal Pública Incondicionada:

a) De ofício: quando a autoridade policial toma o conhecimento direto e


pessoal da infração penal. A peça inaugural neste caso é a portaria.

b) Requisição do juiz ou do promotor de justiça: o juiz não deve


instaurar o inquérito, deverá enviar os autos ao MP. O art. 129, III, CF trata do
poder de requisição do MP. O delegado é obrigado a atender a requisição do
MP, em virtude do seu poder de requisição.
Diante de uma requisição controversa ou absurda, o delegado tem a
possibilidade de recorrer às corregedorias do MP e do CNMP, mas deve abrir o
inquérito policial, para evitar ser processado por prevaricação, por exemplo.

c) Requerimento da vítima ou de seu representante legal: o delegado


não é obrigado a atender esse requerimento. Se não houver um mínimo de
elementos informativos, o delegado pode indeferir o pedido de instauração do
processo. Em caso de indeferimento, cabe o recurso para o chefe de Polícia
previsto no art. 5º, § 2º, do CPP. Em alguns Estados o chefe de polícia é o
secretário de Segurança Pública do Estado, em outros é o delegado-geral.

d) Auto de prisão em flagrante: ocorre quando a autoridade policial toma


conhecimento do fato pela apresentação do acusado preso em flagrante. Neste
caso, a peça inaugural é o auto de prisão em fragrante - APF.

O CPPM prevê que se o APF (art. 27) for suficiente para a elucidação do
fato, o APF constituirá o próprio inquérito policial.

e) Notícia oferecida por qualquer do povo (delatio criminis): delatio


criminis inqualificada (denúncia anônima). No caso denúncia anônima, antes
de instaurar o inquérito policial, deve a autoridade policial verificar a
procedência das informações. (STF HC 84.827 e STJ 64.096)

Autoridade coatora para fins de HC: na requisição pelo MP, a autoridade


coatora é o promotor de Justiça ou o procurador da República. Neste caso, o
HC é endereçado ao Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal. Nas
demais formas, a autoridade coatora é o delegado de polícia. Neste caso, o HC
é endereçado ao juiz de primeiro grau.

7. Notitia criminis

Notitia criminis é o conhecimento espontâneo ou provocado de um fato


delituoso pela autoridade policial.
a) Notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea)  a autoridade
policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de suas diligências
rotineiras. Inquérito policial de ofício.

b) Notitia criminis de cognição mediata  a autoridade policial toma


conhecimento do fato delituoso por meio de um expediente escrito. Inquérito
policial por requisição do MP, por requerimento da vítima ou por notícia de
qualquer do povo.

c) Notitia criminis de cognição coercitiva  a autoridade policial toma


conhecimento do fato obrigatoriamente nos casos de prisão em flagrante.

8. Identificação criminal

É colhida por meio da identificação fotográfica e datiloscópica.

Antes da CF/88 a regra era a obrigatoriedade da identificação criminal,


mesmo para quem se identificasse civilmente. (SUM. 568, STF).

Diante da CF/88 e diante do art. 5º, inc. LVIII, da CF, o que antes era a
regra, agora se tornou exceção, uma vez que o civilmente identificado não
será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.

Atendendo o dispositivo constitucional, a identificação criminal foi


prevista pelas leis: a) art. 109 da Lei 8.069/90 (identificação do menor); b)
art. 5º da Lei 9.034/95 (identificação de pessoa envolvida com o crime
organizado); c) Lei 10.054/00 (dispõe sobre a identificação criminal). A Lei
10.054/00 previa a identificação criminal do civilmente identificado quando da
prática de alguns crimes previstos taxativamente no rol do seu art. 3°. Porém,
por não ressalvar o crime praticado mediante organização criminosa, o STJ
entendeu que o art. 5º da Lei 9.034/95 teria sido revogado pela Lei 10.054/00.
(RHC 12.965).

Na data de 1° de outubro de 2009, a Lei 10.054/00 foi totalmente


revogada pela Lei 12.037/09 (lei sobre identificação criminal), que extinguiu o
rol taxativo de crimes que permitiam a identificação criminal, autorizando sua
utilização para qualquer crime, desde que preenchidos determinados
requisitos.

9. Indiciamento

Indiciar é atribuir a alguém a provável autoria de uma determinada


infração penal.

Segundo a doutrina, para que se faça o indiciamento há a necessidade


da presença concomitante de dois requisitos:

a) Prova da existência do crime.


b) Indícios de autoria (indícios com significado de uma prova de menor
valor persuasivo).

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