Curso: Licenciatura em Educação Disciplina: Estágio Supervisionado Física em Educação Infantil Tutor: Prof. Efrain Maciel da Silva Profa. Jane Dullius e Prof. Rogério Bertoldo Guerreiro Aluno: Aparecido Donizete Alves Cipriano Matrícula: 0871699 Data: 15 de junho de 2010. Polo: Barretos SP
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: LEGAL, MORAL E
NECESSÁRIA.
INTRODUÇÃO
O Ministério da Educação trabalha por uma “Educação de Qualidade
para todos” e hierarquicamente todos os seguimentos educacionais assumem a responsabilidade de atingir esse objetivo. As Unidades Escolares pregam a inclusão, a valorização da diversidade, a solidariedade, a humildade. Aparentemente, já existe uma luta em comum. Entretanto, sabemos que a união de todos será difícil de ser conquistada e, consequentemente, a almejada qualidade também. E, então, o que fazer para mudar a realidade educacional do Brasil? Diante desse questionamento, o presente trabalho pretende promover uma reflexão sobre a possibilidade de favorecer o desenvolvimento integral dos alunos, desde a Educação Infantil, por meio de uma Educação Física efetivada de maneira coerente e condizente com essa faixa etária, visto que o papel da Educação Física, como disciplina integrante do currículo escolar, é extremamente relevante nesse contexto, principalmente, considerando o objetivo traçado. Assim, inicialmente abordaremos alguns aspectos legais com o intuito de evidenciar a garantia de direitos previstos na Carta Magna e na nova LDB, de modo a demonstrar que a luta pela Educação Física na Educação Infantil tem respaldo e razão de ser. Na sequência trataremos da questão da moralidade, uma vez que enquanto o especialista em Educação Física tem direito a ter a sua disposição essas aulas, também na primeira etapa da Educação Básica, o que aumentaria a demanda desse profissional, o Pedagogo, professor generalista, não pode ser cobrado em relação à essência dessa disciplina específica. Com essa situação, sem dúvida, o maior prejudicado é o aluno.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO
Partindo de nossas experiências, observações e leituras teóricas,
notamos a necessidade de que a Educação Física venha a ser trabalhada na Educação Infantil por profissionais especialistas e regularmente habilitados para essa função, visto que esta é essencial para o desenvolvimento integral das crianças atendidas por esta etapa da Educação Básica (de 0 a 5 anos). Defendemos essa ideia na medida em que temos consciência da legislação pertinente que, preocupada com a formação adequada dos educandos, pressupõe em seu 26º Artigo, parágrafo 3º, a Educação Física como componente curricular da Educação Básica e, portanto, também da Educação Infantil, ajustando-se às faixas etárias e às condições dos alunos, de modo a respeitar a necessidade de integrar educação intelectual, moral e também física para o pleno desenvolvimento humano dos indivíduos. A própria Constituição Federal determina que a Educação Infantil passe a integrar o sistema educacional brasileiro e a LDB incorpora a Educação Física à proposta político-pedagógica das instituições de Educação Infantil, visando ao desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, evidenciando todos os seus aspectos, sejam eles sociais, intelectuais, psicológicos e físicos. Transcrevendo o Artigo 26, parágrafo 3º: A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. (BRASIL, 1996).
A Lei No 10.328, de 12 de Dezembro de 2001 incluiu a palavra “obrigatório” após
componente curricular: § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. (Lei no 10.328/2001 ).
Tal alteração visa a sanar as dúvidas a respeito da obrigatoriedade da
Educação física no processo educacional, firmando que ela é componente curricular da Educação Básica, e nesse contexto a Educação Infantil é a primeira etapa. Embora seja evidente, no Brasil, o descompasso existente entre o proposto pela legislação educacional e a efetiva aplicação no processo de ensino e aprendizagem, utilizamo-na para endossar o ideal de que a Educação Física deve ser adotada na Educação Infantil, bem como para demonstrar onde nos respaldamos para buscar a melhoria da qualidade da Educação oferecida as nossas crianças.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A MORAL
[...] ainda encontramos, nas escolas desse nível de ensino,
duas situações extremas: aulas denominadas de Educação Física que não têm a sistematização necessária e traz atividades muito parecidas com os esportes; ou brincadeiras na areia e equipamentos do parque, sem nenhuma diretividade em nenhum momento. (MELLO, 2001, p. 4).
No tópico anterior, analisamos a necessidade da Educação Física ser
implantada na primeira etapa da Educação Básica numa perspectiva legal, uma vez que é um direito garantido pela legislação pertinente. Neste tópico passaremos a uma análise voltada para aspectos morais, procurando abordar uma questão polêmica observada nas escolas de Educação Infantil: o pedagogo está preparado para desenvolver as atividades relacionadas à Educação Física? É ético e moral deixar que profissionais não habilitados assumam tal mister? Podemos afirmar com a propriedade de um observador-pesquisador que o professor polivalente (Pedagogo), regente das classes de Educação Infantil, até têm boa vontade no que diz respeito à formação integral dos seus alunos; contudo, falta-lhes a competência necessária para entender a forma adequada de promover tal formação por meio da Educação Física. Além do conhecimento em relação à legislação, faz-se necessário evidenciar o fato de que “a Educação Física não é simplesmente uma atividade curricular na educação escolarizada, e sim uma disciplina curricular” que, por sua vez, deve ser tratada com o mesmo patamar de importância das demais, visto que possibilita às crianças não apenas a “leitura da palavra”, conforme Paulo Freire, mas também “a leitura do mundo”, a partir do conhecimento de si e do próprio corpo (autoconhecimento) em relação ao outro (alteridade). Outrossim, vale destacar que apenas o profissional capacitado, especialista que possui uma base teórica relacionada à Educação Física, pode utilizar adequadamente as aulas dessa disciplina possibilitando à criança uma maneira própria de existir, de pensar e de sentir o mundo através de movimentos planejados e com objetivos claros e precisos. O profissional preparado para o exercício dessa função - consciente da importância desse trabalho e munido de estratégias diferenciadas e com objetivos - pode promover atividades que favoreçam no aluno a (re) criação da realidade por meio de exercícios lúdicos, ou seja, de brincadeiras que levam a criança a trabalhar seu universo simbólico e, consequentemente, promover a aprendizagem significativa. O desenvolvimento de atividades físicas planejadas de maneira consciente também favorece o entendimento do corpo como modo de expressão e vinculação da criança com o mundo, uma vez que esta, conforme Vygotsky, aprende e se desenvolve à medida que interage com outras crianças. Durante a brincadeira, as crianças se relacionam, brincam, brigam, (re) criam a realidade, resolvem conflitos, enfim, aprendem a conviver em sociedade e também a seguir regras para essa convivência. O desenvolvimento de tais atividades através da mediação do profissional especialista traz inúmeros benefícios para que a aprendizagem significativa efetivamente ocorra, assim como para que a criança seja respeitada como ser em condição especial de desenvolvimento, de modo que seja interpretada como sujeito de direitos e não como necessitada de cuidados (visão assistencialista de educação).
MORALIDADE VERSUS NECESSIDADE
Após observações e estágios na Educação Infantil notamos, na prática, que momentos de lazer são confundidos com Educação Física, normalmente, no parque. Esses momentos de descontração também são importantes e necessários para as crianças, uma vez que é nítida a euforia, a alegria demonstrada. Por que criticar o desempenho dos pedagogos diante de uma realidade tão produtiva e prazerosa, visto que é isso que se espera das atividades direcionadas à faixa etária em questão? A atuação do professor “generalista”, ou seja, do pedagogo nessas ocasiões, na maioria das vezes, é simplesmente de observador. Vale ressaltar ainda que essa observação tenha como objetivo o “cuidado”, a “prevenção”, em detrimento da preocupação com desenvolvimento promovido por atividades de Educação Física planejadas e conscientes. Esses profissionais aproveitam o tempo, enquanto as crianças brincam, para realizar outras atividades afins, como cortar papéis para as próximas atividades em sala de aula, normalmente, preocupados com atividades cognitivas desprendidas do aspecto corporal. Respaldados em Ayoub, afirmamos que, certamente, as crianças seriam mais respeitadas em seu direito à educação integral se o professor, realmente, estivesse educando-as também em momentos como os de brincar no parque, pois este tempo poderia ser utilizado para desenvolver habilidades motoras direcionadas e com objetivos. O parque como espaço para sociabilização e resolução de conflitos também é intenso. Percebemos que os alunos realizam muito as atividades locomotoras e de equilíbrio, pois gostam muito da gangorra, por exemplo, onde precisam de equilíbrio; outra atividade que chama a atenção das crianças é o escorregador para o qual utilizam atividades manipulativas como subir no brinquedo e escorregar. Na sequência, correm novamente e, assim, sucessivamente. Outro brinquedo disputado é o balanço, onde também as crianças precisam de equilíbrio, além de movimentar bastante o corpo. O Professor de Educação Física, com formação especifica, tem condições profissionais, ou melhor, competência para orientar as atividades numa sequência lógica e planejada, uma vez que há momentos de atividades motoras que promovem também a linguagem e a descontração das crianças e, ainda, outros em que as atividades relacionam também o potencial cognitivo do educando, evidenciando a relação entre abstrato e concreto, de modo a ativar a imaginação do aluno para relacionar movimentos à imaginação e consequentemente desenvolver seu potencial simbólico. Gallahue e Ozmun (2005), em seus estudos sobre o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil, indicam que esta é a fase em que as crianças se apresentam egocêntricas, briguentas e com dificuldades de socialização e, através de brincadeiras direcionadas, elas começam a aprender regras, trabalhar em grupo, sendo então imprescindível o professor de Educação Física no desenvolvimento dos conteúdos da Educação Física Escolar, fazendo da brincadeira um meio pedagógico para atingir seus objetivos.
CONCLUSÃO
Após longos estudos e da experiência prática no estágio supervisionado
na Educação Infantil, há de salientar a importância da conscientização dos gestores no que tange ao atendimento do proposto pela nova LDB quando integra a educação física à proposta pedagógica da escola em toda a Educação Básica, de modo a trabalhar no sentido de demonstrar o conhecimento da natureza humana e sua complexidade, principalmente, em relação ao potencial de desenvolvimento que envolve a Educação Infantil e, consequentemente, promover a educação e o cuidado para com essas crianças de maneira indissociável e comprometida com o desenvolvimento integral desses seres humanos biopsiossociais. Sendo assim, as questões abordadas demonstram e enfatizam a necessidade de implantação da Educação Física da Educação Infantil visando a não só sanar as dificuldades encontradas pelos Pedagogos, mas, principalmente, a contribuir para com a efetiva formação das crianças dessa faixa etária, não somente por se tratar de um preceito legal, mas acima de tudo para atender às necessidades de uma educação que visa ao desenvolvimento integral, que, conforme evidencia Gallahue e Ozmun (2005), começa no nascimento e nos acompanha até a morte. REFERÊNCIAS • AYOUB, E. Reflexões sobre a educação física na educação infantil. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, supl. 4, p. 53-60, 2001. • A Educação Física na Educação Infantil: a importância do movimentar-se e suas contribuições no desenvolvimento da criança - Andréia Paula Basei. • BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. • BRASIL. Lei 8069/90. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, 1990. • BRASIL. Lei 9394/96. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. • BRASIL. Lei no 10.328, de 12 de dezembro de 2001. • Conselho Estadual de Educação - Leis Ordinárias Federais. • Educação Física na Educação Infantil: considerações sobre sua importância - Diana Gava - Eliane Silva de França - Rosilene Rosa - Profª MS. Solange de Oliveira Freitas Borragine. • FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 47ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. • GALLAHUE, D. e OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. • MELLO, M.A. Educação Infantil e educação física: um binômio separado pelo movimento, mas qual o movimento? Artigo da biblioteca digital da Universidade Federal de São Carlos, 2007. • Percepção dos professores sobre a função da Educação Física escolar como componente curricular da educação básica - Willyam Muniz Matos - Rosângela Ramos Veloso Silva. • SOARES, C.L. et al. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1999. • VIEIRA, M.S. Por uma educação física com sabor: possibilidades e desafios no ensino infantil. In: Anais do XV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e II Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Recife: CBCE , 2007.