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ASSÉDIO SEXUAL
IVANILTON JUNIOR
JULLIANA BRITO
TÂMARA DUPLAT
(Acadêmicos do 5º ano de
Direito_Unifacs)
SALVADOR
2005
2
ASSÉDIO SEXUAL
1- INTRODUÇÃO
As conseqüências para quem sofre este tipo de abuso são drásticas e merece uma
maior atenção por parte do legislador.
Não cabe ao Direito Penal tutelar a totalidade dos bens jurídicos existentes, mas
somente os bens jurídicos mais relevantes, os direitos mais importantes e fundamentais, e
apenas em face de uma violação inaceitável. Paralelamente a isso, entendemos ser função da
norma penal, assim como do Direito como um todo, proteger os valores sociais.
1
Prado, Luiz Regis & Bitencourt, Cezar Roberto, Código penal anotado e legislação complementar. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1998.
2
Assim entendem Rômulo de Andrade Moreira, Assédio Sexual: um enfoque criminal. In.
www.direitocriminal.com.br,3-4-2001
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. O assédio sexual como fato criminoso, Boletim IBCCrim, n. 89, abr.
2000, p.11.
4
pode evitar um mal maior já que, inúmeros dos crimes de caráter sexual iniciam-se com o
assédio e terminam no estupro.3
Para que ocorra a incriminação de uma conduta deve-se verificar três questões: o
merecimento, a necessidade e a adequação da tutela penal. É preciso analisar o valor do bem
jurídico perante a sociedade, se existem outras formas de proteção ao bem jurídico que torne
desnecessária a proteção penal e, por fim, “se a medida utilizada possui, abstratamente,
aptidão para cumprir com as finalidades a que foi instituída".4
Concordamos que o Direito Penal possui natureza subsidiária e que deve ser utilizada
como ultima ratio. Mas dizer que o assédio não merece proteção penal, por esta estar
resguardada apenas para situações limite, e, contudo o assédio não é uma situação limite nos
parece absurdo.
3
Crimes contra os costumes e assédio sexual: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1999.
4
Bianchini, Alice.A legitimação do processo de incriminação do assédio sexual. Assédio sexual. São Paulo:
Saraiva-2002.
5
É inegável que existem outras formas de controle, porém, no caso do assédio, eles
mostraram-se ao longo da história absolutamente ineficientes.
3 - CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO
Há muito tempo as leis e, antes destas, as regras sociais, criam meios de proteger
as mulheres de ofensas de ordem sexual. Justamente por isso a incriminação do assédio é de
extrema importância, sendo reconhecida em praticamente todo o mundo.
6
Tal conduta já era tratada, não nos termos utilizados atualmente, em Roma desde 138
a.C. no Acordo do Povo. O termo utilizado nos dias atuais vem do inglês “sexual
harassment”, que é uma expressão cunhada nos tribunais americanos para identificar um
fenômeno que sabemos ser tão antigo quanto à história da humanidade.
Este é um ponto com o qual não concordamos, visto que revela certa tendência a
supervalorização da hierarquia funcional, pois, embora tal tipo penal esteja restrito em lei a
atividade laboral, entendemos que este delito poderá ocorrer em outras searas da relação
5
Alemany, Carme, Dicionário crítico do feminismo. Paris, PUF, 2000.
7
social, sendo exemplos didáticos o meio acadêmico (entre professor e aluno), o hospitalar
(entre médicos e pacientes) e o religioso (entre sacerdotes e fiéis), porém tal assunto será
melhor tratado posteriormente.
3.2 - SUJEITOS
6
Costa Jr.,Paulo José da. Comentários ao Código Penal. Saraiva, 1999
7
Damásio de Jesus e Alice Bianchini. Assédio Sexual agora é crime.Boletim do IBCCrim,n.105,ago. 2001.
8
ascendência. Não havendo subordinação, não há delito. Com isso chega-se a conclusão que no
Brasil não se encontra prevista a figura do assédio ambiental, diferentemente do que ocorre no
Direito Espanhol.
O legislador não estabeleceu o meio de execução do crime, daí por que se trata de
delito de forma livre. Assim, de acordo com o texto legal, qualquer meio poderá ser utilizado
para o constrangimento, inclusive a violência ou ameaça.
Entendemos, todavia, que apesar de ser delito de forma livre, a violência não pode
ser a física assim como a ameaça não pode ser grave, pois ao utilizar a expressão “vantagem
ou favorecimento sexual” tem-se afastada a idéia de violência. Na vantagem e no
favorecimento o agente se utiliza de determinada situação ,tem-se afastada a idéia de força,
na violência, ao contrário, anulada-se a vontade da vítima.
Deve-se também chamar a atenção para o fato de que o uso da violência ou grave
ameaça podem caracterizar outros delitos como o estupro e o atentado violento ao pudor, e
não mais o assédio sexual.
Verifica-se, portanto, que a descrição da conduta não adotou a melhor técnica, já que
as locuções “vantagem ou favorecimento sexual” são indeterminadas e vagas, ferindo o
princípio da taxatividade e também o princípio da legalidade.8
Desta forma, restaram sem a tutela penal correspondente outras relações nas quais é
freqüente a prática do assédio. Neste sentido, o tipo penal, além de falho tecnicamente, não
8
Costa Jr., Paulo José da. Comentários ao Código Penal.Saraiva, 1999.
9
propicia a tutela da liberdade sexual a que se propôs, deixando descobertas uma série de
condutas igualmente lesivas ao bem jurídico.9
3.5 – CONSUMAÇÃO
Entendemos que por ser crime unisubsistente não há que se falar em tentativa.
Porém, alguns doutrinadores como Cezar Roberto Bitencourt e Damásio E. de Jesus
contemplam tal possibilidade.
9
Costa Jr., Paulo José da. Op.cit.,p 724
10
É crime próprio, pois que exige uma qualidade especial; doloso, sendo que não foi
prevista a modalidade culposa; unisubsistente; pluriofensivo, posto que engloba vários bens
jurídicos; comissivo; formal; e instantâneo, por não se alongar no tempo.
3.7 – A PENA
O princípio da proporcionalidade da pena sofreu uma clara violação visto que deve
existir obrigatoriamente uma medida entre a gravidade do fato praticado e a sanção imposta.
A pena deverá ser proporcional ao desvalor do ilícito praticado.
No caso do assédio percebe-se que houve exagero punitivo tendo em vista que a
ofensa a alguns bens jurídicos notadamente mais relevantes possui a mesma penalização. A
pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade do fato, a medida do justo, como
também não poderá o legislador desviar-se da sua real finalidade e determinar pena
incompatível com a gravidade da lesão ao bem jurídico tão só para atender politicamente os
reclames da sociedade. Necessário que fique claro que a elevação da pena não soluciona o
problema, não impede que ele ocorra.
Observa-se que a exígua margem entre o mínimo e o máximo legal não se mostra
adequada à correta individualização da pena.
Em decorrência disso, acreditamos que seria infinitamente mais útil que a pena, em
sendo de prisão, não ultrapassasse o limite de 1 ano, para que fosse caracterizado como
crime de menor potencial ofensivo, pois assim seria possível soluções consensuadas nos
Juizados Especiais Criminais.
A ação penal dependerá de representação quando a vítima ou seus pais não puderem
prover as despesas processuais. Neste caso, leva-se em conta a miserabilidade da vítima (art.
225, I) e a ação penal será pública condicionada.
Entendemos que a ação penal deveria ser pública incondicionada justamente pela
natureza do delito. A vítima, por encontrar-se em relação de inferioridade ao assediador, fica
sob pressão direta deste, o que torna altamente improvável que esta venha a denunciá-lo
criminalmente. Se de alguma forma o autor tem o poder de constranger a vítima a fazer algo,
nada impede que ele venha a compeli-la para que esta nada faça para incriminá-lo. Bem
como, pode a vítima exigir, mediante chantagem, que o assediador pague pela não propositura
da ação. Outro aspecto que muitas vezes impede a mulher de tomar uma atitude frente ao
assédio sexual e realizar a denúncia, está vinculada a humilhação a que está exposta.
3.9 - PROVA
12
Todo crime sexual possui natureza eminentemente clandestina, pelo que difícil será a
sua comprovação por meio de testemunhas. Nesses casos é induvidoso que a palavra da
vítima adquire relevo especial, pois "se assim não fosse, dificilmente alguém seria condenado
como sedutor, corruptor, estuprador etc., vez que a natureza mesma dessas infrações está a
indicar não poderem ser praticadas à vista de outrem”.10
Não se pode exigir prova testemunhal, vez que em tais casos inexiste prova direta.
O assédio poderá ocorrer sempre que alguém se utilize de uma situação privilegiada
para imprimir ,através de sua autoridade ou abuso de poder, constrangimento de ordem sexual
à vítima.11
10
Tourinho Filho, Fernando da Costa, Processo Penal, vol. III São Paulo: Saraiva, 1998, 20.ed. , p. 294.
11
Duarte, Liza Bastos. Assédio sexual sob a perspectiva do direito de gênero. Revista Síntese, ano I, n 5, dez.
2001.
13
Mas, de maneira alguma se coarcta a conduta supra citada apenas aos vínculos
empregatícios, como estipula o legislador brasileiro.
Antes de tudo deve-se ter em mente que o tipo em questão é uma violação aos
princípios da intimidade, da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Tais garantias
encontram-se expressas no art.1o e 5º, I, II da Constituição Federal.
12
GONZALES, Elpidio. In: acoso sexual. Ediciones Depolma, Buenos Aires, 1996.
14
Por estar, o assédio sexual, visceralmente ligado a idéia de poder entendemos por
requisito essencial para a caracterização do tipo a relação de poder existente entre o assediante
e o assediado.
O assédio deve ser visto como um abuso de poder. Abuso este que existe em todas as
formas de relações sociais em que há discrepância de poder.
Todavia, a relação de poder envolve toda uma rede de vínculos interpessoais e não
somente o vínculo trabalhista.
E, justamente pelo que foi exposto acima, como bem expõe Foucalt, “o poder não
pode ser visto como um posto, um bem possível de ser apropriado, mas como uma relação
que nasce e subsiste mesmo que numa simples interação entre duas pessoas”.
Pensar de maneira diversa significa adotar uma definição inflexível do que vem a ser
o poder o que, por certo, resultará numa interpretação míope da lei.
Por ser uma conseqüência imediata de uma posição de poder do qual o assediador é
o detentor, é absurdo admitir-se que uma diarista não possa ser, em relação ao seu patrão,
vítima de assédio sexual. Que o pai não possa ser assediador do filho. Que em caso de
hierarquia religiosa, coabitação e hospitalidade não esteja caracterizado o crime em questão.
Tais situações, apesar de gritante gravidade, continuam sendo apenas uma questão
moral condenada somente pela possível consciência ética existente em cada ser humano.
15
Alega-se que tanto nestes casos como na relação de docência13 (que trataremos
posteriormente) não resta caracterizado o assédio por ser inadmissível interpretação extensiva
da norma no âmbito penal e que, tal abrangência comprometeria o princípio da taxatividade.
É evidente que há uma relação de poder nestes casos, pois o que se deve levar em
conta é se houve ou não a forma impositiva de propostas sexuais bem como, o real poder de
cumprir a ameaça proferida, e não se há ou não atividade inerente ao cargo, emprego ou
função.
Por fim, concluímos que no Brasil o que se denomina Assédio Sexual bem poderia
chamar-se Assédio laboral, pois, lamentavelmente, somente existe nas relações de trabalho.14
13
Damásio E. de Jesus contempla a possibilidade de existência do assédio em casos que envolvam a relação
docente e discente, desde que a conduta seja inerente ao exercício de cargo, emprego ou função.
14
Gomes, Luiz Flávio. Lei do assédio sexual (10.224/01): Primeiras notas interpretativas. In
www.direitocriminal.com.br, 2001.
16
Em 1983 incluiu-se o assédio sexual na ata dos Direitos Humanos. Antes disso, em
1981, o código canadense de Ontário fez menção ao assédio.
É importante que se encontre uma definição internacional básica que possa ser
aplicada na maioria dos países e regiões, respeitadas as características locais. Essa definição
tem de ser adequada aos diversos valores e normas culturais das mais diversas partes do
mundo.
O assédio sexual foi introduzido no Brasil pela Lei 10.224 em 2001, portanto,
bastante recente, devido à grande resistência por parte dos doutrinadores em incluí-la na seara
penal.
17
Em comparação às demais legislações, nos parece a lei brasileira muito tímida, tendo
em vista que taxativamente inclui no crime de assédio sexual apenas as relações de trabalho.
Não aceitando sequer os casos nos quais as causas tenham sido decorrentes de ocasiões
geradas por conta das relações de emprego.
Nos últimos anos o problema do assédio tem sido reconhecido pela grande maioria
dos países, fato que se traduziu pela elaboração e adoção de textos legislativos na Bélgica,
França, Alemanha, Itália, Irlanda, Países Baixos, Áustria e Espanha, bem como por
convenções coletivas em certos setores da Espanha, Reino Unido, Países Baixos e Dinamarca.
A Alemanha e a Áustria possuem uma acepção ampla do que vem a ser assédio
sexual, incluindo todas as alusões sexistas, enquanto que outros países como a França
possuem uma visão mais restritiva, exigindo a superioridade hierárquica como elemento
caracterizador essencial.
A França foi o primeiro país da Europa a incluir o assédio sexual em seu texto legal,
sendo que possui tipificação penal e trabalhista para o referido delito. Em tal país, este crime é
visto muito mais como uma violação à dignidade da pessoa humana do que a liberdade
sexual. A França adotou o conceito de assédio sexual por chantagem, considerando-o forma
de agressão sexual, porém menos grave do que a violência sexual. A legislação francesa
define o assédio sexual no art. 122-46 do Código do Trabalho, como "o ato do empregador, de
um superior hierárquico ou de toda a pessoa que, abusando da autoridade que lhe conferem
15
A OIT exige para a configuração do assédio a presença de ao menos uma das seguintes características:
1-Ser claramente uma condição para dar ou manter o emprego.
2-Influir nas promoções ou carreira do assediado.
3-Prejudicar o rendimento profissional, humilhar, insultar ou intimidar a vítima.
18
Uma de suas características consiste no fato de não ser ele desejado pela vítima,
sendo desnecessária sua repetição, pois um só ato grave poderá traduzir abuso de autoridade.
O conceito permite, entretanto, estender o texto a todos os que têm uma autoridade dentro da
empresa, seja funcional ou de fato. A condição é que o autor possa exercer, de fato, essa
autoridade.
Le fait de haceler autruir (L.n. 98-468 du 17 juin 1998) “en donnant des ordres,
profèrent des menaces, imposant des contraintes ou exerçant des pressions
graves” dans le but d’obtenir des faveurs de nature sexualle, par une personne
abusant de l’autorité que lui confèrent ses fonctions, est puni d’un na
d’emprisonnement et de 100.000 F d’ amende.
Segundo o disposto no art. 1º, do Decreto 2.385, de 1993, o assédio sexual configura-
se pela coação, assim considerada a ação de um funcionário que, no exercício de suas
funções, se aproveite de uma relação hierárquica induzindo outrem a ceder às suas
solicitações sexuais. As denúncias ou ações fundadas na configuração desta conduta poderão
19
exercitar-se na forma do procedimento geral em vigor ou, por opção do agente, perante o
responsável pela área de recursos humanos da respectiva jurisdição.
Nos Estados Unidos, a ata dos direitos civis de 1964 em seu título VII, considerou o
assédio sexual como uma discriminação em bases sexuais, sendo que tal conceito é seguido
por inúmeros estados, que proíbem a conduta em seus textos legais.
No Japão, o assédio é conceituado como “qualquer ato ou palavra que possa ferir a
intimidade e dignidade da pessoa, prejudicando o ambiente de trabalho”, podendo ser
caracterizado de duas formas: pela compensação, quando o chefe ou algum superior se
aproveita de seu cargo para promover alguém em troca de favores sexuais e, o que se
16
Eluf, Luiza Nagib. Crimes contra os costumes e assédio sexual.São Paulo: Jurídica Brasileira, 1999.
20
denomina assédio ambiental, quando não há prejuízo econômico, mas que com sua repetição,
atrapalha o trabalho.
A Lei n.º 77, de 1987, da Nova Zelândia, é uma das mais completas sobre a matéria,
e, em seu art. 212, considera que um trabalhador foi vítima de assédio sexual quando seu
empregador lhe solicitar relações sexuais, contato sexual ou qualquer outra forma de
atividade sexual que compreenda: uma promessa implícita ou expressa ao trabalhador de
outorgar-lhe um tratamento preferencial,prejudicial em seu emprego;; uma ameaça implícita
ou expressa ao trabalhador quanto à situação presente ou futura em matéria de emprego.
Pode-se perceber que na maioria das legislações internacionais, além das relações de
emprego a lei abrange a relação docente ou qualquer outra relação de superioridade, incidindo
assim no crime de assédio sexual.
O assédio ambiental e o assédio moral não foram contemplados pela legislação penal
brasileira.
A França foi o primeiro país da Europa a criminalizar este crime e tal criminalizacão
sofreu grande influência do impacto causado pelo livro Le harcèlement moral, la violence
perverse au quotidien, de Marie-France Hirigoyen, que revela de forma clara e contundente
um retrato deste tipo de violência que atinge silenciosamente milhares, senão milhões, de
vítimas em todo o mundo.
17
Hirigoyn,Marie-France.Le harcèlement moral, la violence perverse au quotidien.Syron, 1998.
23
No Brasil este crime não se encontra previsto na esfera penal, mas sim no âmbito
trabalhista. E esta é a principal diferença entre o assédio moral e o assédio sexual, pois o
último, diferentemente do primeiro, é uma ilicitude penal.
Não vislumbramos a necessidade da tutela penal neste caso por estar ausente o
elemento que nos parece o mais grave na caracterização do assédio sexual, que é o abuso da
relação de poder.
Entendemos que muito mais que uma atitude antiética, o assédio é uma forma de
violência e discriminação contra a mulher, e exatamente por isso, merece não só a proteção
penal mas também uma maior amplitude na sua conceituação.
Gomes, Luiz Flávio. Lei do assédio sexual (10.224/01): Primeiras notas interpretativas.
18
www.direitocriminal.com.br, 6-6-2001.
24
elas são submetidas. Tais situações poderão acontecer nas mais diversas áreas das relações
sociais. Assim, o assédio sexual poderá ocorrer sempre que o autor se prevalecer de uma
situação de privilégio, para imprimir, por conta de sua autoridade constrangimento de ordem
sexual a vítima.19
Este não é um caso isolado. O professor Alberto Limonta, que leciona física e
matemática no Colégio Cordeiro de Farias, escola pública da capital paraense, foi acusado e
preso por exigir que três alunas o acompanhassem a um motel como condição para aprová-las
em exames de recuperação. Tudo foi gravado com uma microcâmera de TV por uma das
vítimas do suposto assédio. Na gravação, Limonta diz que outras alunas já haviam mantido
relações sexuais em troca de notas.
19
Duarte, Liza Bastos. Assédio sexual sob a perspectiva do direito de gênero. Revista Síntese, Ano I, n 5, Dez-
Jan, 2001.
25
Não se pode ficar insensível a uma realidade que, apesar de absurda, existe e cresce
dia após dia, fazendo milhares de vítimas.
São inúmeras as críticas que o art. 216 A tem recebido por parte da doutrina em
virtude de suas imperfeições, a começar pelas imperfeições lingüísticas.
O tema poderia, deveria e merecia ter uma regulamentação jurídica mais vasta,
metódica e congruente.
ao texto legal criou-se inúmeras lacunas que dificultam a sanção do assediador frente ao
direito penal, criando assim inúmeras distorções que precisam ser urgentemente elucidadas.
É postulado indeclinável do Estado de Direito material que a lei penal deverá ser
suficientemente clara e precisa na formulação do conteúdo do tipo legal, bem como no
estabelecimento da sanção, para que exista real segurança jurídica.
Indubitavelmente o ponto que merece as mais ferrenhas críticas é o que diz respeito
ao veto presidencial.
Não poderá, portanto, incidir neste crime a regra constante no art. 226, inciso II, pois
restaria caracterizado Bis In Idem.
Tais condutas, se praticadas hoje, são atípicas, mas deveriam estar inseridas no tipo,
pois nestes casos o assediador transforma em agressão o que deveria ser assistência, violando
assim a confiança natural que a vítima depositou-lhe, diminuindo-lhe a defesa e facilitando a
execução da ação criminosa.
Além disso, a lei deveria atingir também a esfera cível e não apenas a criminal,
estipulando uma indenização por danos morais, como acontece em outros países. Com certeza
a multa pecuniária cumulativa com danos morais intimidaria e seria infinitamente mais eficaz.
E a ação penal, conforme expomos no ponto 2.8 deveria ser pública incondicionada.
Vantagem nos remete a idéia de lucro, ganho patrimonial, e não a ganhos de natureza
sexual.
É da mais absoluta necessidade um maior rigor nos delitos que envolvam condutas
sexuais, justamente por provocarem prejuízos não só de ordem financeira, mas sim, e o que é
pior, de natureza psicológica.
9 – CONCLUSÃO
empregadores. Isso pode ser feito com distribuição de códigos de conduta, materiais de
orientação, declarações políticas e programas de conscientização pública.
Não se esquecendo também de que o crime deveria ser inserido no âmbito das
infrações de menor potencial ofensivo como também atingir a esfera civil através da
estipulação de uma indenização por danos morais.
REFERÊNCIAS
BIANCHINI, Alice & JESUS, Damásio de. Assédio sexual agora é crime. Boletim
IBCCrim, n. 105, ago. /2001.
COSTA Jr., Paulo José da. Comentários ao Código Penal. Saraiva, 1999.
ELUF, Luiza Nagib. Crimes contra os costumes e assédio sexual. São Paulo: Jurídica
Brasileira, 1999l.
GOMES, Luiz Flávio. Buraco na Lei: Assédio praticado por padre ou pastor não é
crime. In www.direitocriminal.com.br, 2001.
GOMES, Luiz Flávio & JESUS, Damásio de. Assédio Sexual. São Paulo: Saraiva,
2002.
GONÇALVES Jr., Mário. Assédio sexual: Chefe pode ser vítima de subalterno em
empresa. In www.direitopúblico.com.br. 2001.
MELO, Mônica de. Assédio Sexual: quando é preciso dizer não. Artigo xerocado.
31
PRADO, Luiz Regis & Bitencourt, Cezar Roberto. Código Penal anotado e
legislação complementar.São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998.
SILVA NETO, Manoel Jorge. Questões controvertidas sobre o assédio sexual. In:
Revista do Curso de Direito da UNIFACS. Vol. 22, p. 29.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge.O assédio sexual como fato criminoso. Boletim
IBCCrim, n.89,abr.,2000,p.11.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal.Vol III, São Paulo: Saraiva,
1998, p.294.