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A abertura definitiva da barra de saquarema, a priori é uma ação que tem por objetivo
melhorar a qualidade das águas da Lagoa de Saquarema, remediando os vários processos
antrópicos que vêm causando a degradação acelerada do ecossistema. Visa também aumentar
a diversidade biológica da laguna pela instensificação das trocas de água entre o sistema e o
mar.
Existe uma unanimidade de opiniões da população favoráveis à abertura definitiva da
barra que imagina-se vai aumentar a piscosidade da laguna melhorar as condições de
navegabilidade e de turismo e lazer da região, e com; isto aumentando também a renda desta
população. Contudo, cabe a nós pesquisadores avaliar os verdadeiros impactos da abertura da
barra e verificar se as modificações vão realmente surtir os efeitos esperados.
A Lagoa de Saquarema tem vivido um processo de abertura e fechamento constantes de
sua barra. Em fevereiro deste ano a barra foi aberta com auxílio de equipamento de
terraplanagem. Pode-se constatar que este eventos de abertura (mesmo forçada) periódicos
não têm provocado grandes impactos negativos no sistema. Isto é uma garantia de que os
efeitos da abertura, principalmente na biota deve ser muito pequeno. Outro aspecto
tranquilizador é a previsão de modificação da salinidade (veja a parte de modelagem), que não
deve ser muito alta. Na verdade, as variações causadas pelas oscilações pluviométricas
certamente são muito mais significativos. O fator de estresse causado por este prâmetro no
ecossistema deve ser muito pequeno. Prevê-se que a modificação mais significativa seria o
declínio de uma pequena parte dos bancos de Typha dominguensis e de Acrosticum sp. Um
acompanhamento detalhado do declínio destes bancos deve ser realizado e um programa de
substituição deste bancos por manguezais deve ser realizado. Embora este bancos de
macrófitas tenham grande importância ecológica como abrigo de aves, répteis e outro
animais, esta vegetação vem sofrendo uma pressão muito grande da população que
anualmente queima grandes faixas dos bancos (Figura 14.1), considerados muito incômodos
pois dificultam o acesso à laguna.
Outro aspecto importante da abertura da barra, é a altura da laguna. Com a barra
definitivamente aberta e sem a ponte do Jardim que restringe a entrada de água nos sacos mais
internos, o nível da laguna oscilará muito mais que atualmente e algumas situações extremas
foram avaliadas com atenção neste trabalho. A conjugação de marés de sizígia com marés de
tempestade (entrada de frente fria) pode ser considerada uma situação extrema (veja parte de
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modelização para maiores detalhes). Nesta situação o nível da laguna deve subir de maneira
significativa )até 60 cm acima do nível observado atualmente (1,05 m acima do datum). Sob
estas condições, é possível que alguns moradores das margens (principalmente aqueles que
construiram na faixa de preservação marginal) tenham a ingrata surpresa de ter suas casa
alagadas. É importante frisar que esta é uma probabilidade que infelizmente não pudemos
quantificar, pois não foi feito estudo topográfico detalhado de toda a margem. Os locais onde
as medidas puderam ser feitas (à margens da lagoa Jardim, vila de pescadores) não
apresentaram tal risco. A Figura 14.2 apresenta a configuração da lagoa em situação extrema
de alagamento
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Figura 14.2: Área estimada de alagamento da laguna em situação extrema de maré de sizígia e
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14.4. Hidrodinâmica
seis (6) nos rios principais do sistema. Os parâmetros analisados foram temperatura (T),
condutividade (C), transparência (Zm), pH, oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica
de oxigênio (DBO), nitrato NO3-N), nitrito (NO2-N), amônio (NH4-N), ortofosfato (PO4-P),
fósforo total (PT), carbono orgânico particulado (COP), clorofila a (Chl.a), feopigmentos
(Phaeo) e sólidos totais em suspensão (STS).
Dois dos seis rios analisados apresentam qualidade da água precária pelo impacto de
efluentes domésticos. As águas dos sistema lagunar apresentam variação espacial dos
parâmetros físico-químicos em função da compartimentação geomorfológica e a influência do
canal de maré da lagoa. A Lagoa de Urussanga é mesohalina e apresenta concentrações de
matéria orgânica particulada duas vezes mais elevadas que a Lagoa de Fora polihalina. O
EIA da Abertura da Barra de Saquarema
O tempo de residência das ,aguas da laguna pode ser calculado com base nos valores de
troca de água entre laguna e oceano já determinados no capítulo relativo à modelagem.
Considerando que os valores de entrada de água doce no sistema são muito pequenos (86,4 m3
dia-1) comparativamente ao volume da laguna (20 x106 m3). Por outro lado os valores de troca
de água com o mar são muito elevados (em sizígia chegam a 8 x 106 m3 dia-1) podemos
negligenciar o primeiro valor e utilizar apenas o segundo, chegando a um tempo de residência
(T50%) de 30 horas. Este valor trata a lagoa como um compartimento úmico e homogêneo,
este valor pode ser bem menor para o saco de Fora e bem maior para a Lagoa de Mombaça
(cálculos segundo Wasserman, 1999).
tendência de erosão. A construção de uma guia corrente irá, teóricamente, aumentar o efeito
de embaiamento, no entanto com uma largura de apenas 80 m (6% do comprimento do arco
praial) este efeito será provavelmente desprezível.
Um segundo aspecto a merecer atenção é o efeito de retenção de sedimentos pela
embocadura do canal. Localizado em profundidades de 5 m a 10 m, onde é eficiente a
mobilização e transporte de sedimentos por ação combinada de ondas e correntes
unidirecionais. Conforme ressaltado acima não há indicação clara da existência de um
transporte significativo no sentido paralelo ao litoral, sendo que a praia, propriamente dita,
deve sofrer um transporte principalmente no sentido perpendicular à mesma. Não há também
indicação morfológica de acumulação sedimentar em uma ou outra extremidade do arco praial
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de Itaúna o que permitiria deduzir uma direção residual de transporte. Esta questão somente
poderá ser respondida através de estudos adicionais. No caso de retenção sedimentar por
efeito do guia corrente, a boa prática é fazer com que as areias dragadas do futuro canal sejam
reincorporadas ao prisma praial.
Em resumo, apesar de permanecer algumas incertezas quanto aos efeitos da construção
de um guia corrente sobre a morfodinâmica da praia de Itaúna, é de esperar que, pela pequena
dimensão da obra e sua posição paralela a uma das extremidades do arco praial, seus efeitos,
em termos de erosão ou progradação da linha de praia, sejam desprezíveis.
Com relação à estabilidade do canal, Rosman, (1996) apresenta um estudo de
viabilização da obra da Barra Franca em que estabelece uma largura ideal de 100 m por 4
metros de profundidade (400 m2 de área hidráulica). Contudo o custo de tal obra certamente
inviabilizaria o projeto. Assim este autor calcula uma área mínima em que o canal ainda fosse
estável. Este autor cita: ”…fica patente que o Canal da Barra com área hidráulica mínima de 160 m² é
estável. Entretanto, por ter uma seção hidráulica aquém da curva de máxima capacidade de resposta para
algumas situações de maré, o canal teria pouca margem de segurança para manter-se desobstruído apenas pela
ação hidrodinâmica. Entretanto, isso não é problema se considerarmos a construção do guia-correntes, como
ilustra a Figura 6.1. O guia correntes por impedir a maior parte do possível aporte de sedimentos à
embocadura, devida aos processos litorâneos na praia de Saquarema, garante uma razão entre o volume do
prisma de maré e o volume anual de sedimentos transportados defronte à desembocadura suficientemente
confortável para garantir a estabilidade do canal para qualquer amplitude de maré.”
A construção da Barra Franca deve causar maior impacto em dois tipos de atividade, na
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pesca e no turismo. No tocante ao turismo, existe uma certa preocupação relacionada com a
queda da qualidade da água na praia de Itaúna. A configuração do guia-correntes prevê o
lançamento das águas da laguna a uma distância considerável da praia, tornando pouco
provável o retorno imediato desta água para a orla. O retorno pode ocorrer, mas após um
período relativamente elevado e forte diluição. O modelo hidrodinâmico confirma este
comportamento. Em contra-partida a cidade ganha uma lagoa relativamente limpa e saudável,
com grande potencial de se tornar atrativo turístico.
A atividade pesqueira deve ganhar muito com a Barra Franca. Muitas espécies de mar
devem voltar a frequentar a laguna, aumentando seu potencial pesqueiro. Uma estimativa
quantitativa do aumento é difícil pois trata-se de um parâmetro dfícil de modelisar. Pode-se
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dizer ainda que a abertura da laguna deve provocar aumento no potencial pesqueiro de toda a
região, inclusive em mar aberto, já que muitas espécies de mar vão encontrar na laguna as
condições ideais para sua reprodução. Além disto, as águas produtivas da laguna ao se
misturarem com as águas do mar devem constituir fonte de alimento para um aumento da
produtividade piscícola.
Como dito anteriormente, o principal impacto da abertura da barra será uma pequena
redução da ocupação de macrófitas das margens da laguna. Não é possível estimar qual a
dimensão da área afetada, mas, tendo em vista as pequenas modificações na salinidade,
certamente esta área é pequena. Na verdade, se não existisse ação humana nas margens
(queimadas, aterros, etc.) os bancos de macrófitas seriam substituidos por manguezais. O
problema é que as macrófitas são plantas anuais e os manguezais demoram muito mais a se
estabelecer, assim alguns anos passariam entre a decadência das macrófitas e o
desenvolvimento dos manguezais. Neste período, em que a margem ficaria desocupada
(talvez com crescimento de gramíneas como as Espartinas, pode ocorrer a ocupação. Afim de
se evitar este período intermediário, é sugerido que seja desenvolvido um programa de plantio
de árvores de manguezal.
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