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Oxigênio e carbono em lagos

Curso: Ciências Biológicas


Disciplina: Limnologia

Prof. José Fernandes Bezerra Neto


Química da água:
Gases e principais íons

 Gases
 Oxigênio (O2)
 Dióxido de carbono (CO2)
 Nitrogênio gasoso (N2)

 Principais íons (ânions e cátions)


Gases dissolvidos

1. Os gases constituem um tipo de impureza química da


água: alguns são essenciais para vida, alguns são
inertes, outros tóxicos;

2. As propriedades dos gases são governados por leis


químicas e físicas;

3. Os gases tendem ao equilíbrio entre a concentração na


atmosfera e aquela dissolvida na água;

4. A solubilidade de um gás é independente da


concentração de outros gases em solução.

2
Solubilidade dos gases

 A quantidade máxima de gás que pode ser dissolvida


na água (100% de saturação) é determinada pela
temperatura, concentração de íons dissolvidos e a
elevação.

 A solubilidade diminui com o aumento da temperatura.

 A solubilidade diminui com a elevação do conteúdo


iônico na água (STD, CE25, salinidade)
“a saturação de OD é menor em água salgada do que em
água doce”
(para uma mesma temperatura, os sólidos “desalojam” os
gases)
Efeito da temperatura

Solubilidade do oxigênio na água pura

Temp Temp O2- Sol 16


(o C) (o F) (mg/L) 14

12
0 32 15

Oxigênio (mg/L)
10

5 41 13 8

6
10 50 11
4

15 59 10 2

20 68 9 0
0 10 20 30 40 50
Temperatura (C)
25 77 8
Efeito da altitude

1.000
Pressão Parcial (p)

0.900

0.800

0.700

0.600

0.500
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

Altitude (m)
Química da água: O2

 Requerido para respiração.

 Tóxico aos organismos anaeróbicos.

 Influencia os processos químicos.


Principais fontes de O2

 Fontes
 Fotossíntese (fitoplâncton, perifíton, macrófitas)
 O ar através da mistura causada pelo vento
 Entrada via tributários ou água subterrânea
 tributários podem ter alta ou baixa
concentração de OD
 água subterrânea pode ter alta ou baixa
concentração de OD
 Difusão (epilímnio para o hipolímnio e vice
versa)
As duas principais fontes de O2

Energia via
vento

fotossíntese
Principais consumidores de O2

 Consumo
 Respiração
 bactéria, plantas, animais; água e sedimentos
 Difusão – respiração no sedimento
 Saída (tributário ou água subterrânea)
Principais perdas
O2 O2 O2
Difusão

Respiração na
coluna de água

Respiração no sedimento
(bactéria and bentos)
Fontes poluidoras que consomem oxigênio

No processo de mineralização das substâncias


orgânicas, os decompositores utilizam o oxigênio
dissolvido na água.

O oxigênio dissolvido (OD) é deplecionado durante o


processo de decomposição de poluentes orgânicos.

Método de avaliação
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): o
quanto de oxigênio é requerido para a quebra das
substâncias orgânicas. Alto DBO, baixa concentração
de OD.
Fontes pontuais de poluição

Efluentes
domésticos
Fontes pontuais de poluição

Efluentes
industriais
Fontes pontuais de poluição

Efluentes
provenientes de
criatórios intensivos
Fontes difusas de poluição

 Ocorre em áreas extensas


 Entra nos corpos de água de uma maneira
difusa
 Difícil de se traçar o ponto de origem
 Magnitude relacionada com os eventos
climáticos
Fontes poluidoras que consomem oxigênio

Declínio OD a juzante – Níveis de OD


diminuem a juzante da fonte de poluição a
medida que os decompositores
metabolizam as substâncias poluidoras.

 Matéria orgânica particulada e dissolvida


 Esgoto, rejeitos da agricultura, carcaças,
etc.
 Aumento MOD ou MOP --> aumento bactéria
--> aumento DBO --> menos 02 disponível
para a biota
Fisiologia dos peixes e o oxigênio
A maioria dos peixes não sobrevive a concentrações de
oxigênio < 2 mg/L
Fisiologia dos peixes e o oxigênio

Eventos naturais podem


desencadear a morte em
massa de peixes em corpos de
água. Exemplos:
1 – Lagos com uma grande
quantidade de macrófitas
aquáticas.
2 – Inversão térmica no período
de verão.
3 – Tempestades muito fortes.
Fisiologia dos peixes e o oxigênio

Eventos de mortalidade de peixes – sul da Flórida (1991 – 2001)


Variabilidade do O2

A distribuição do oxigênio em lagos é


influenciado por:

 Temperatura
 Padrões de mistura
 Produtividade
 Morfometria
Perfil de temperatura e oxigênio

 Baía oeste do lago


Minnetonka, USA
 8/31/2000
Oxigênio
dissolvido

Termoclina
• Forte estratificação
térmica e de
Temperatura estratificação de
oxigênio dissolvido
Escalas:
oC e

ppm O2
Gráfico de cores

Cor de
fundo
Escala
Plot de
OD Temp
linha

Anoxia abaixo
da
termoclina
Gráfico de cores - Lago raso

OD Temp
Terminologia do estado trófico

Oligotrófico – baixa concentração


de nutrientes e produtividade;
usualmente alta claridade

Mesotrófico – moderada
concentração de nutrientes,
produtividade e claridade

Eutrófico – alta concentração de


nutrientes e produtividade; baixa
claridade
0
Verão 1 O2 O2

Perfis de Oxigênio 2
3

Depth (m)
4 Orthogrado
1. Orthogrado 5
Clinogrado
Baixa produtividade 6
7
2. Clinogrado 8 T T
Alta produtividade 9
10

3. Heterogrado Positivo
0
Aumento de solubilidade * O2 O2
1
no metalímnio devido à
2
temperatura
3
Concentrações de algas
Depth (m)
4
no metalímnio 5
6 Heterogrado
4. Heterogrado Negativo Positivo
Heterogrado
Alta respiração e/ou 7 Negativo
decomposição no 8
metalímnio T T
9
10
0 5 10 15 0 5 10 15
11 O2 mg/l O2 mg/l
Interpretando perfis

Questões
1. Qual a época do
ano?
2. Explicar perfis
• Temp Temp
• OD pH
• pH
DO
Ciclos sazonais de temperatura & Oxigênio

Aqui um ciclo
annual de um Temp
lago
temperado pH
DO
Ciclos sazonais de temperatura & Oxigênio
Ciclo diurno do oxigênio
Ciclo sazonal do oxigênio
Ciclo sazonal do oxigênio
Gases: mistura causada pelo vento

 O Oxigênio após uma tempestade – Quantos


eventos de mistura podem ser encontrados na
Baía Halsteds – Lago Minnetonka, MN neste
ano de amostragem?
O2: significado para o homem
 Afeta diretamente a fisiologia e o hábitat dos peixes
 Afeta indiretamente os peixes e outros organismos via
substâncias tóxicas associadas com a anoxia:
 H2S
 NH4+ (convertido a NH4OH e NH3 acima ~pH 9)

 Afeta indiretamente o suprimento de água de


abastecimento
 H2S (gosto e odor)
 Solubiliza Fe
 Via regulação da liberação do P do sedimento (mediado
via adsorção em Fe(OH)3)
 Afeta indiretamente as turbinas de reservatórios
 Via corrosão por H2S (mesmo aço inoxidável)
Gás sulfídrico – perfis de verão
•Oligotrófico •Eutrófico
•0 •0
T T
O2

O2
• anoxia

H2S H2S
anoxia
Morfometria e o oxigênio

A importância do volume do epilímnio e do hipolímnio

Organismos mortos caem no hipolímnio,


aonde eles sofrem decomposição

Esta decomposição remove oxigênio


Morfometria e o oxigênio

A importância do volume do epilímnio e do hipolímnio

Se a quantidade de material que cai é igual para os dois


lagos, o hipolímnio de um lago mais profundo terá um
estoque maior de oxigênio porque ele possui maior
volume de água
Morfometria e o oxigênio

Assim, o hipolímnio de um lago raso se


tornará anóxico mais rápido

Os lagos tornam-se anóxicos do fundo para a superfície


Aparelhos para medição do OD
Gases: CO2

 somente cerca de 0.035% do ar (~ 350 ppm)


 Concentração na água mais elevada do que o esperado
devido à sua alta solubilidade

Gás solubilidade @ 1 Concentração @ pressão


(a 10oC) atm (mg/L) normal (mg/L)

N2 23.3 18.2
O2 55.0 11.3
CO2 2319 0.81
C - Inorgânico: Principais fontes e consumo

Fontes:
 CO2 atmosférico
 Respiração e nos locais de decomposição na água
 Produtos de decomposição no solo (material alóctone) e
água subterrânea
Consumo:
 Conversões (dependente de pH) do bicarbonato e
carbonato
 Precipitação do CaCO3 e MgCO3 em pH elevado
 Fotossíntese
Fluxo do CO2 em lagos

CO2 Difusão

Entrada
fotossíntese CO2
Saída

respiração

O dióxido de carbono não somente se dissolve na água, ele reage com ela
A família do CO2

CO2 Dióxido de Carbono


H2CO3 Ácido Carbônico
CO32- Carbonato
HCO3- Bicarbonato
Ca(HCO3)2 Bicarbonato de Cálcio
CaCO3 Carbonato de Cálcio
H+ Íon Hidrogênio
OH- Íon Hidroxil
Revisão: pH

Medida da acidez como a concentração de H+

pH = - log [H+]

 pH varia de <1 a 14

 7 = neutro
 < 7 = ácido (grande quantidade de íons H+)
 > 7 = alcalino (grande quantidade de íons OH-)
Revisão: pH

pH = - log [H+]
Reações do CO2 na água

 <1% é hidratado para formar o ácido carbônico:


CO2 + H2O H2CO3

 uma parte do ácido carbônico se dissocia em


bicarbonato e íons hidrogênio:
H2CO3 HCO-3 + H +

 À medida que o pH se eleva, o bicarbonato se


dissocia em carbonato:
HCO-3 CO3-2 + H+
Compreendendo a variação de pH

CO2 entrada (produz H+, diminui pH, mais ácido)

CO2 + H2O H2CO3 HCO3- + H+ CO32- +2 H+

remoção de CO2 pela fotossíntese (remove H+, aumenta pH)


Equilíbrio do Carbono Inorgânico

H2CO3 HCO3 CO3

pH
Nota – 100% CO2 em pH< ~ 4.5; 100% bicarbonato em pH ~
8 e 100% carbonato em pH > ~12
Equilíbrio do Carbono Inorgânico

Mudanças no pH podem mudar a forma


dominante de carbono na água

Se há mudanças na forma
dominante de carbono, pode
haver mudanças no pH
O sistema de tamponamento da água

Lagos que tem muito carbonato podem resistir a


mudanças no pH com a adição de ácidos

A habilidade de resistir a mudanças no pH com


respeito à adição de ácidos é chamada
Alcalinidade
Química do CO2: Alcalinidade

Alcalinidade é mensurada pela titulação


com ácido até o pH atingir o valor 4,5

Quanto mais ácido for necessário para alcançar 4,5,


mais tamponado estará o lago contra mudanças no
pH

Lagos em regiões kársticas tem alta capacidade de


tamponamento e portanto são menos impactadas por
chuva ácida. Lagos em solos graníticos podem ser
altamente impactados
Chuva ácida é
um termo
comum para
descrever as
muitas maneiras
que os ácidos
caem da
atmosfera

O melhor termo é deposição ácida porque não é


somente chuva (deposição seca).
A chuva natural

Chuva “Normal” tem um pH 5,5-6

Mesmo sem poluição, a chuva tende a ser naturalmente


ácida, devido ao fato do CO2 na atmosfera reagir com
a água para produzir ácido carbônico:
CO2 + H2O  H2CO3

 A acidez da chuva é suficiente para dissolver minerais


na crosta terrestre, tornando-os disponíveis para a
biota (esta acidez não causa danos).
A chuva natural
Chuva “Normal” tem um pH 5,5-6
Outros fenômenos podem liberar substâncias para a
atmosfera tais como: erupções vulcânicas, queimadas
naturais, etc. podem contribuir para a acidificação natural
da chuva.
A formação da chuva ácida

 A chuva ácida é produzida pela


combinação de processos naturais e
antrópicos.

 Atividades industriais produzem uma


grande quantidade de SOX e NOX que
são transportados para uma longa
distância na atmosfera.

 Quando estes gases precursores


penetram em nuvens carregadas
(tempestades), eles reagem com a
água para formar ácido sulfúrico
(H2SO4) e ácido nítrico (HNO3).
Chuva ácida (pH < 4,2)
Os ácidos na chuva ácida

 As espécies ácidas na % na chuva ácida dos EUA


chuva ácida podem ser
diferentes em países
diferentes.

 O gráfico em pizza à Ácido sulfúrico


Ácido nítrico
direita mostra a situação Outros
nos EUA:
 Ácido sulfúrico– 65%
 Ácido nítrico– 30%
 Outros– 5%
O enxofre e a chuva ácida
 Acredita-se que o dióxido de
enxofre (SO2) seja o principal
precursor da formação de
gotas de ácido sulfúrico. A
sua principal fonte na
atmosfera é a combustão de
combustíveis fósseis. Isto é
devido ao fato do enxofre ser
o contaminante natural do
carvão e óleo.

Dióxido de enxofre (SO2) 


Ácido sulfúrico (H2SO4)
Óxidos de nitrogênio e a chuva ácida

 Os principais ingredientes para a formação do ácido


nítrico são NO e o NO2 (eles são frequentemente
combinados em uma única categoria, NOX).

As emissões de NOx em 1992


Outros
Veículos 19% Veículos
coletivos 32%
12%
Aparelhos
Indústrias elétricos
5% 32%
A quanto tempo o problema começou?

 Em 1968 Svante Oden (Suécia) demonstrou que


a precipitação sobre os países da Escandinávia
estava tornando-se mais ácida.

7
6
5
4
pH

3
2
1
0
1950 1955 1960 1965 1970 1975
Quais são os efeitos da chuva ácida?

U.S. EPA Acid Rain Program http://www.epa.gov/acidrain/student/acidity.html


Efeitos em ecossistemas aquáticos

 São nos lagos e nos


riachos onde os mais pH 5,9
dramáticos efeitos da
chuva ácida podem ser
claramente observados.
É sabido que águas
com baixo pH podem
matar ovos de peixes e
ovos de anfíbios –
lagos e riachos inteiros pH 5,1
podem ser colocados
em stress, devastados
ou destruídos.

Lago Trout
Efeitos sobre a biota

 Stress sobre os organismos aquáticos


 Falhas na reprodução
 Danos nas guelras  problemas
respiratórios
 Falhas na eclosão dos ovos
 Interferência na absorção de Ca
(moluscos)
Espécies aquáticas e a acidez da água
Como a chuva ácida pode impactar os lagos?
Experimental Lakes Area (ELA)—David Schindler
Acidificação do lago 223
(http://www.umanitoba.ca/institutes/fisheries/)
Em 2 anos, foi adicionado uma quantidade de ácido sufúrico
concentrado ao lago igual a 18 anos de deposição ácida na
região de Ontário - Canadá
Início do experimento em 1976, com um pH 6.8
Schindler et al. 1985

6.13 (1977) mudança na estrutura


da comunidade fitoplanctônica

 5.93 (1978) Mysis relicta (7 milhões para 0)


A espécie de peixe Fathead minnows
não se reproduz
Mais mudanças no fitoplâncton
Perda de 1 espécie de zooplâncton
(copépodo)
5.64 (1979) Aumento na abundância de algas
filamentosas
Crustáceos com carapaça mole
Minnow e sculpin declinam

 5.59 (1980) Mais perdas de zooplâncton


Perdas de espécies de crustáceos

5.02 (1981) Mais mudanças na comunidade


zooplanctônica
Mais espécies de peixes não
reproduzem
Efeitos em ecossistemas aquáticos

 A extensão da
mudança na acidez
de um lago ou
riacho é
determinado
principalmente pela
capacidade de
tamponamento do
solo da bacia
hidrográfica em
que está localizada
o corpo de água.
www.waterencyclopedia.com/A-Bi/Acid-Rain.html
Efeitos em ecossistemas aquáticos

 Vulnerabilidade do lago ou da bacia


hidrográfica:
 tipo de solo;
 profundidade e permeabilidade do solo;
 tamanho e forma da bacia;
 tipo de vegetação / altitude:
Árvores decíduas – tamponam ácidos;
Coníferas – acidificam ainda mais o solo.
A chuva ácida e o transporte atmosférico

 Transporte de poluentes a grandes distâncias do


ponto de sua criação ao ponto do seu efeito.

 Suécia e Noruega: recebem constantemente a


poluição atmosférica que vem da Inglaterra e da
Alemanha

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